quinta-feira, 23 de abril de 2015

Os Idosos Diabéticos estão Recebendo Medicamentos em Excesso?

O trabalho destacado nesta semana avaliou o controle da glicemia, através dos valores de hemoglobina glicada, em idosos americanos durante um período de 10 anos e questionou o risco/benefício da utilização de hipoglicemiantes naqueles pacientes com estado de saúde comprometido.  Mas antes de falar sobre o trabalho permitam-me uma breve revisão. 

Para jovens e adultos, a Associação Americana de Diabetes recomenda valores de hemoglobina glicada abaixo de 7%, enquanto a Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos sugere valores abaixo de 6,5% para promover a redução das complicações microvasculares (cegueira, por exemplo).  Entretanto, em idosos, especialmente naqueles com estado clínico agravado, os benefícios do controle glicêmico rigoroso podem ser menores que os riscos relacionados ao aumento da probabilidade de ocorrer hipoglicemia. 

Uma vez que há trabalhos mostrando que 25% dos idosos atendidos em serviços de emergência devido a reações adversas a medicamentos, procuraram atendimento devido a hipoglicemia induzida por medicamentos (Budnitz DS et al., N Engl J Med 2011; 365 (21):2002-2012). Assim, em idosos com expectativa de vida limitada o os riscos podem exceder os benefícios. 

No trabalho desta semana (JAMA Intern Med 2015; 175(3):356-362), um grupo de pesquisadores americanos do Departamento de Medicina da Universidade de Yale, classificou os idosos estudados em 3 grupos de acordo com seu estado de saúde (Figura 1A abaixo). Podemos perceber que a maior parte dos idosos, independentemente do estado de saúde geral, apresentava valores do hemoglobina glicada abaixo dos 7% recomendados. Além disso, quando observamos a figura 1B, onde são mostrados os tratamentos daqueles pacientes que atingiram o controle glicemico mencionado acima, percebemos que não há variação no perfil de tratamento entre os diferentes grupos investigados. 



Assim, conforme destacado em vermelho, aproximadamente  400 mil idosos com estado de saúde comprometido foram submetidos a um controle glicemico com fármacos que os expunham a efeitos adversos que poderiam agravar ainda mais seu estado de saúde, caracterizando o uso desnecessário de medicamentos. 

Para finalizar, mês passado escrevi um artigo que falava sobre a "desprescrição" de medicamentos. Conduta que se encaixaria perfeitamente nesta situação. Se você não leu, coloco o link a seguir: http://farmaceuticoresponsavel.blogspot.com.br/2015/03/para-medicamentos-menos-e-mais.html

Um abraço!  

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Medicamentos para Enxaqueca durante a Gravidez e Lactação.

A utilização de medicamentos durante a gravidez e lactação requer cautela diante dos riscos trazidos ao feto ou ao lactente. Assim, a todo momento que informação validade é publicada em revistas confiáveis torna-se pertinente que esta seja compartilhada com o maior número de pessoas o possível.

Desta maneira, o artigo desta quinta mostra as informações publicadas por um grupo de pesquisadores noruegueses, na revista Nature Reviews Neurology deste mês. O trabalho revisou a literatura buscando compilar as drogas mais seguras para o tratamento da enxaqueca durante a gravidez e amamentação. 

Como podemos observar na figura abaixo, para tratamento agudo, o paracetamol continua sendo o fármaco de escolha durante toda a gravidez. Embora possa ser utilizado na lactação,  neste período as evidências apresentam vantagens para o ibuprofeno, o qual é excretado no leite materno em menores quantidades. Caso o paracetamol não seja eficiente para aliviar a dor desta mãe, a segunda escolha recaiu para o sumatriptano. 




Por outro lado, se necessário o tratamento profilático, os beta-bloqueadores, tornam-se a classe de primeira escolha. Todavia, durante o último trimestre de gravidez é importante avaliar o risco/benefício do uso de qualquer fármaco,  uma vez que o bebê pode ser exposto a possíveis efeitos adversos. Conforme pode ser observado na figura abaixo:




Um abraço e vamos fazer a nossa parte para promover o Uso Racional de Medicamentos!

quinta-feira, 9 de abril de 2015

O tempo ideal de atividade física semanal!

Em 2008, diversos guias passaram a recomendar um mínimo de 75 minutos semanais de atividade física intensa (AFI) ou 150 minutos semanais de atividade física moderada (AFM), para que os benefícios para a saúde (em especial a cardiovascular) pudessem ser efetivamente percebidos. Todavia, questões como: até onde estes benefícios chegavam? A partir de que momento o excesso de atividade física pode ser prejudicial? Ainda não estavam claros.

Na tentativa de responder a estas questões, um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer Americano, reuniu os dados de 661.137 pessoas com idades variando entre 21-98 anos.  Estas foram divididos em grupos de acordo com a quantidade de minutos por semana em que praticavam atividade física e comparados em sua longevidade com pessoas sedentárias.


  
O gráfico acima é interessante sob dois aspectos: 1) porque mostra que a partir de determinado ponto as horas a mais de treino não significam mais benefícios sobre a saúde cardiovascular e 2) porque, por outro lado, mostram que o excesso de treino não prejudicou de maneira estatisticamente significante a longevidade dos indivíduos estudados.


Assim, para aqueles que ainda tinham dúvida sobre a quantidades de horas para exercitar-se durante uma semana, o gráfico nos diz: mexa-se e depois que a inércia sair do corpo, coloque como objetivo pelo menos os 75 min/AFI ou 150 min/AFM por semana.