quinta-feira, 25 de junho de 2015

Dificuldades para engravidar? Atenção para o antiinflamatório!


Há um tempo atrás, enquanto estudava a fisiologia do ciclo menstrual, li em um livro de fisiologia que a ovulação dependia de uma pequena resposta inflamatória para acontecer. Na mesma hora pensei: possivelmente uma mulher que esteja tomando antiinflamatórios neste período terá dificuldades para ovular.

Em 11 de junho de 2015, Sami Salman e seus colaboradores publicaram um trabalho confirmando esta hipótese (Salman S, Sherif B & Al-Zohyri A. Effects of some non-steroidal anti-inflammatory drugs on ovulation in women with mild musculoskeletal pain. Annual European Congress of Rheumatology. 11 June 2015).

Os autores avaliaram 49 mulheres divididas em 4 grupos: (1) 10 mulheres participaram do grupo placebo; (2) 16 mulheres ingeriram diclofenaco; (3) 12 mulheres ingeriram naproxeno; (4)11 mulheres  ingeriram etoricoxibe.

Todos os medicamentos foram administrados nas doses recomendadas para o tratamento de dor muscular  moderada, durante 10 dias, a partir do décimo dia do ciclo menstrual. Data onde o processo inflamatório associado a ovulação normalmente começa a acontecer. 

Foi realizada a ultra-sonografia em todas as mulheres para verificar a ocorrência da ovulação e os resultados seguem abaixo:

das 10 mulheres do grupo placebo, 100% ovularam;
das 16 mulheres do grupo diclofenaco, 6,3% ovularam;
das 12 mulheres do grupo naproxeno, 25% ovularam;
das 11 mulheres do grupo etoricoxibe, 27,5% ovularam.

Estes resultados trazem um alerta para todo farmacêutico, que muitas vezes é indagado sobre os motivos que levam a dificuldade de engravidar, enfrentada por muitos casais. Digo isso porque o uso de antiinflamatórios também pode ser colocado na lista daqueles fatores a serem considerados.

Vamos continuar estudando!

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Uso de omeprazol e risco de infarto.

Há um bom tempo que o uso indiscriminado de inibidores da bomba de prótons (IBP) é tema aqui no Blog, para ver um artigo anterior mostrando dados de uso abusivo e revisão das interações medicamentosas: CLIQUE AQUI!

Em estudo publicado nesta semana na revista científica PLOS ONE, um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford,  utilizando dados de aproximadamente 3 milhões de pessoas, investigou a relação entre o uso de inibidores da bomba de prótons e o risco de infarto agudo do miocárdio. Na tabela abaixo você observa a compilação dos principais resultados do trabalho:


Quando observo a tabela penso em duas coisas: primeiro que o uso abusivo de IBP começa a mostrar suas consequências.  Segundo, que nós, farmacêuticos, temos que começar a identificar as diferenças entre os fármacos dentro da mesma classe, ou seja, observe o risco induzido pelo omeprazol e pantoprazol é muito maior do que aquele demonstrado pelo uso de esomeprazol. 

Mas aí você vai me dizer: um farmacêutico não pode substituir fármacos dentro da mesma classe. Correto! Embora já tenhamos legislação que nos permita fazer algo próximo a isso (mas isso é conversa para outro artigo). Por outro lado, se você, assim como eu, acredita que é possível ir além  na nossa profissão. Pode ver nesse tipo de dado uma boa oportunidade para escrever para um médico sugerindo a substituição de um fármaco por outro.  

Caso queira fazer, me coloco a inteira disposição para ajudar! E para começar, AQUI você pode acessar o artigo original.

Um abraço, 
Fabrício Assini

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Interação Medicamentosa e Insuficiência Renal em idosos.

Acredito firmemente que o paciente idoso polimedicado deve receber atenção especial quando pensamos na identificação de interações medicamentosas. Especialmente quando consideramos que o envelhecimento está bastante relacionado com alterações hepáticas e renais. 

Algumas vezes a interação medicamentosa acontece pela soma de efeitos adversos de fármacos diferentes. Por exemplo, Loboz e Sheffield, pesquisadores do Departamento de Farmacologia Clínica da Universidade de Sidney, partiram dessa premissa e avaliaram o funcionamento renal de 301 idosos atendidos num hospital australiano. Para participar do grupo estudado o idoso deveria utilizar pelo menos um das classes farmacológicas a seguir:  inibidores da ECA, antagonistas AT1, diuréticos ou FAINES.

As classes acima foram escolhidas porque, mesmo que por mecanismos diferentes, há evidências que diminuam a função renal. Os pesquisadores mostraram que, nos idosos que utilizavam a associação de pelo menos 3 grupos de fármacos listados acima, os valores de creatinina urinários estavam aumentados quando comparados aqueles idosos que não utilizavam,  sugerindo um prejuízo da função renal. 

Desta maneira, é importante que todo farmacêutico que identifique o uso simultâneo destes fármacos, alerte os outros profissionais envolvidos no cuidado deste paciente para a possibilidade desta interação medicamentosa, garantindo a segurança do idoso. 

Atenciosamente,
Prof. Dr. Fabricio Assini

Para ler o trabalho citado acima: Loboz KK, Sheffield GM. Br J Clin Pharmacol Vol 59(2); Pgs 239-243; Ano 2004.